terça-feira, 19 de abril de 2011

Onde Deus está?

 

   

             Nestes tempos de incertezas várias igrejas propõem resposta. As formas são as mais diversas. Há novas caracterizações para a figura de Deus. Contudo, a pergunta sobre onde está Deus é pertinente. Para entendermos está visão precária de Deus, lançamos mão a obra de Paulo Sérgio Soares, Iniciativa de Deus e co-responsabilidade humana: teologia da graça. Esta obra oferece uma visualização sucinta de como a imagem de Deus está cada vez mais distorcida. Este autor elenca sete formas de entender Deus: O Deus da cobrança, um que é o Deus do pagamento por serviços prestados, aquele considerado o Deus da troca de favores,  outro que é o Deus do mérito pessoal, mas também temos pode-se acrescentar o Deus da sorte, o Deus da predestinação e o Deus da prosperidade. Vamos trabalhar em quatro formas deste elenco.

                    
                 

a)            O Deus da troca de favores

                Nos momentos de dor, sofrimento, incertezas... Determinadas pessoas querendo que a ação de Deus toque sua vida, fazem promessas para que seja correspondido em sua petição, o que leva “algumas pessoas a fazerem promessas e votos, muitas vezes até difíceis de cumprir ou penosas, elas esperam que uma determinada ação sua (um sacrifício, um ato de piedade ou caridade etc.) corresponda a graça que deseja alcançar”.[1] Pode-se entender tal atitude como uma troca de favor, Deus faz alguma coisa que necessito e, eu faço algo em troca para ajudar o trabalho Dele. É como se fosse possível “tocar o coração de Deus” [2] e conseguir uma graça.

b)         O Deus do mérito pessoal

Outra questão que merece destaque é aquela que faz com que uma pessoa se julgue merecedora da ação de Deus. Seja para o que quer de bom ou para coisas que se considera que uma determinada pessoa merece. “Acredita-se, portanto, que o sucesso ou o insucesso das pessoas depende do seu mérito”.[3] Esta visualização ou entendimento, promove uma expectativa de que o ser humano é merecedor do amor de Deus. É como Ele tivesse a obrigação de derramar sua graça sobre nós, porque somos bons, para quem tem bom comportamento e, quem não for bom, não será merecedor. Portanto, é semelhante a competidores de uma disputa desportiva “quem se esforçou mais, preparou-se mais e conseguiu demonstrar mais habilidade do que os demais competidores”[4] será o merecedor do louro da vitória. Que neste caso será aquilo que se pede ou mesmo o reino eterno, o “grande prêmio”.

c)            O Deus da sorte

“Em nossa linguagem corrente dizemos, geralmente sem senso crítico, que os muito pobres, os necessitados, os miseráveis, os excluídos da sociedade são os ‘menos favorecidos’”.[5] É como se o “se dar bem na vida” estivesse atrelado somente à sorte, e, não dependesse de questões sociais, econômicas e políticas. Em certos meios eclesiásticos isso é entendido como um favor que Deus presta a este e não aquele. Deus tem os seus prediletos nesta forma de entender a graça e neste caso “a sorte quem dá é Deus”.[6] Assim O Altíssimo dá mais sorte para uns e menos para outros.

d)            O Deus da prosperidade

                Está é a moda da vez. Em tempos difíceis Deus se torna o senhor da prosperidade. “Segundo essa imagem, Deus dá ao ser humano só o que é bom na vida”.[7] Basta “crer e tomar posse da bênção” que a prosperidade está garantida. Quem não consegue a prosperidade é por que não crê. Todas as coisas consideradas ruins são atribuídas ao demônio. É como se não existissem problemas humanos. “Assim, se uma família enfrenta problemas, como dificuldades financeiras, desemprego, carências, doenças, alcoolismo, drogas, desentendimentos etc., é porque não está com Deus, não se teme nem sua Lei”.[8]
            Pode-se entender que quem é pobre, é porque deixa “portas abertas” para que o demônio entre. O Diabo é quem rouba a alegria, a felicidade e a saúde etc. Os que estão  bem, com dinheiro, saúde, alegria, etc., são aqueles que tomam posse da bênção. Nesse sentido, os problemas são vistos como punição de Deus.


A graça de Deus
O entendimento do significado do que é graça pode ser visto desde o Antigo Testamento.  O vocábulo hnn em hebraico, “designa nas relações humanas uma atitude de benevolência, na maioria das vezes por parte de um superior para com um subordinado, é a expressão teológica do amor insondável de Deus (Gn 6. 8)”.[9] Tal expressão, mostra a relação que Deus estabeleceu com Noé. Este texto vai ser mencionado em Mt 24. 37, onde  o evangelista afirma que na vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé.
                “A hèsèd divina funda certa relação com o homem”.[10] Esta palavra é usada 245 vezes no Antigo Testamento e, é traduzida por bondade e graça. Ela está ligada ao campo semântico de justiça.[11] Este vocábulo traduz bem o sentido de gratuidade no AT pois, a graça era a ação de deus em benefício de seu povo. “Sua graça toma o corpo na aliança com Israel”[12] formulando ao longo da história uma teologia. Dessa forma, a graça divina se mostra na vida e na história do povo. É Deus quem toma a decisão de acolher um povo que muitas vezes lhe foi infiel. No entanto, este dicionário afirma que “o ato de graça de Deus dirige-se em primeiro lugar ao povo; mas à medida que a crença em sua eleição se encontra abalada, a experiência da graça tende a individualidade”. [13]
                O Novo Testamento forma uma teologia própria, onde “o ato da graça de Deus encontra sua figura escatológica em Jesus Cristo, no qual o reino de Deus se aproximou (Mc 1. 15par.) e a vida  se desvelou (Jo 3. 16)”.[14]   No Novo Testamento, o desenvolvimento da graça trás a memória os atos de Cristo, que são constantemente re-atualizados  por meio dos “sacramentos, da palavra”[15] e do Espírito Santo, que desenvolve a fé e dá a quem nele crê nova vida.
                No Novo Testamento “emprega o termo charis 155 vezes, normalmente nas Epistolas de Paulo (100 vezes)”.[16]             Paulo em suas cartas desenvolve um conceito de graça bastante amplo, entretanto, bem definido. É a graça que o leva a se tornar atuante para com o evangelho (Cf 1Co 15. 10). Ou ainda, como em 2Co 12. 9 – é a graça que sustenta o ser humano em sua fraqueza – tornando-o forte.  Fale lembrar que este vocábulo ainda aparece em:

1 e 2 Co (10 e 18 vezes), Rm (24 vezes) e Ef (12 vezes). Nas Epistolas Gerais, acha-se mais freqüentemente em 1 Pe (10 vezes); ocorre em Hb (8 vezes). Atos dos Apóstolos emprega charis 17 vezes, Lucas, 8, e João, 4. Com exceção de um só texto em 1 Pedro, charisma é um conceito exclusivamente Paulino (16 vezes). Charizesthai ocorre somente em Paulo (16 vezes) e em Lucas (Lucas, 3 vezes; Atos, 4 vezes), como também charitoun (uma vez cada). [17]

                Qual destes deuses acima nós escolhemos estes descritos acima ou o Deus Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Devemos fazer uma reflexão séria sobre o que tratamos e como tratamos




[1] SOARES, Paulo Sérgio, Iniciativa de Deus e co-responsabilidade humana: teologia da graça, São Paulo, Paulinas, 2004, p. 20.
[2] Ibid., p. 20
[3] Ibid., p. 21.
[4] Ibid., p. 21.
[5] Ibid., p. 23.
[6] Ibid., p. 23.
[7] Ibid., p. 25.
[8] Ibid., p. 25.
[9] Dicionário crítico de teologia / publicado sob a direção de Jean-Yves Lacoste: (tradução Paulo Meneses...[et al.). – São Paulo, Paulinas/Loyola, 2004, p. 777.
[10] Ibid., p. 777.
[11] SIQUEIRA, Tércio Machado, O conceito de justiça no Antigo Testamento: a partir do livro de Salmos, Apostila.
[12] Dicionário critico de teologia, Op. Cit., p. 778.
[13] Ibid., p. 778.
[14] Ibid., p. 778.
[15] BOFF, Leonardo, A graça libertadora no mundo. Petrópolis, Vozes, 1990, p. 21.
[16] COENEN, Lothar e BROWN, Colin,  Dicionário Internacional de teologia do Novo Testamento, Tradução de Gordon Hown, São Paulo, Vida Nova, 2000, p. 910.
[17] Ibid., p. 510.          


Notas Bibliográficas

BOFF, Leonardo, A graça libertadora no mundo. Petrópolis, Vozes, 1990.
COENEN, Lothar e BROWN, Colin,  Dicionário Internacional de teologia do Novo Testamento, Tradução de Gordon Hown, São Paulo, Vida Nova, 2000.
Dicionário crítico de teologia / publicado sob a direção de Jean-Yves Lacoste: (tradução Paulo Meneses...[et al.). – São
Paulo, Paulinas/Loyola, 2004.
SIQUEIRA, Tércio Machado, O conceito de justiça no Antigo Testamento: a partir do livro de Salmos, Apostila. BOFF,
SOARES, Paulo Sérgio, Iniciativa de Deus e co-responsabilidade humana: teologia da graça, São Paulo, Paulinas, 2004.





Nenhum comentário:

Postar um comentário