terça-feira, 5 de julho de 2011

Tens fé? Onde estão os frutos?

“Vós sois o sal da terra (...). Vós sois a luz do mundo (...)” Mateus 5. 13-14

Somos chamados para ser bênção e para espalhar a santidade bíblica no mundo (João Wesley). A preocupação básica da Igreja deveria ser a missão e para torná-la real deveria dispor de todos os meios para propagar o Evangelho, a Boa Nova de Cristo ao maior número possível de  pessoas.
Estamos às vésperas de um Concílio Geral. Esperamos que entre as discussões, seja realmente privilegiada a discussão sobre a missão. É importante tratar da organização da igreja, escolher bispos, mas, a missão é condição primeira para a vida e o viver a igreja.
João Wesley tinha claro e distinto a visualização do papel da igreja. Entretanto, hoje, nós metodistas temos uma crise de identidade, já não Sabemos a “que veio a igreja”. Se, é para ter um número expressivo de gente de modo a se igualar a outras denominações ou ser sal e luz para um mundo caótico.
A questão, embora seja negada, é que no fundo a maior parte das discussões é somente semântica. Estamos nos esquecendo de produzir frutos, isto é, se temos fé como igreja, onde estão os frutos. Por questões semânticas nos dividimos e nos desentendemos. Com isso o que produzimos é muito pouco em face das necessidades. Nosso discurso não bate com a nossa prática.
 Jesus entendia que a Missão se destinasse aos pobres deste mundo. Aos doentes, necessitados, sem esperanças, aos oprimidos de todas as naturezas. Há que resgatar o sentido último do significado de ser Igreja de Cristo. É hora de darmos as mãos e humildemente nos colocarmos a disposição do Espírito Santo e reagir a mesmice que atrapalha a vida. Vamos superar os conflitos e caminhar ecumenicamente juntos.

Rev. Jorge Wagner

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O caminho do Reino...

        Os tempos pós-modernos desenvolvem no inconsciente coletivo um modelo arbitrário de igreja: a igreja das coisas. Neste modelo Deus deve estar a serviço da vontade das pessoas. Cada pedido, desejo, vontade deve ser respondido com uma bênção ou milagre. O senhor deve ser provado em sua capacidade de responder aos reclames de seus seguidores.
        O texto anterior mostra-nos como a pós-modernidade pensa como Deus deve tratar o ser humano. A responsabilidade, o seguir ao Senhor não é mais importante. O importante é ter vontades satisfeitas. O Senhor da glória torna-se aos poucos vassalo ou escravo da vontade de seus “seguidores”.
Que igreja nós devemos querer? Que tipo de cristianismo deve ser pratica? Qual teologia seguir?
        Estas perguntas não podem calar-se. Se isso ocorrer, teremos perdido o rumo do reino. A discussão, nós sabemos bem, não é simples. Requer tempo e disposição para tratá-la. Mas, também certa obrigatoriedade de nossa parte. Se a cristandade sai “dos trilhos” cabe exatamente a ela, procurar volta ao caminho certo.
        Que tipo de igreja queremos???


terça-feira, 19 de abril de 2011

Onde Deus está?

 

   

             Nestes tempos de incertezas várias igrejas propõem resposta. As formas são as mais diversas. Há novas caracterizações para a figura de Deus. Contudo, a pergunta sobre onde está Deus é pertinente. Para entendermos está visão precária de Deus, lançamos mão a obra de Paulo Sérgio Soares, Iniciativa de Deus e co-responsabilidade humana: teologia da graça. Esta obra oferece uma visualização sucinta de como a imagem de Deus está cada vez mais distorcida. Este autor elenca sete formas de entender Deus: O Deus da cobrança, um que é o Deus do pagamento por serviços prestados, aquele considerado o Deus da troca de favores,  outro que é o Deus do mérito pessoal, mas também temos pode-se acrescentar o Deus da sorte, o Deus da predestinação e o Deus da prosperidade. Vamos trabalhar em quatro formas deste elenco.

                    
                 

a)            O Deus da troca de favores

                Nos momentos de dor, sofrimento, incertezas... Determinadas pessoas querendo que a ação de Deus toque sua vida, fazem promessas para que seja correspondido em sua petição, o que leva “algumas pessoas a fazerem promessas e votos, muitas vezes até difíceis de cumprir ou penosas, elas esperam que uma determinada ação sua (um sacrifício, um ato de piedade ou caridade etc.) corresponda a graça que deseja alcançar”.[1] Pode-se entender tal atitude como uma troca de favor, Deus faz alguma coisa que necessito e, eu faço algo em troca para ajudar o trabalho Dele. É como se fosse possível “tocar o coração de Deus” [2] e conseguir uma graça.

b)         O Deus do mérito pessoal

Outra questão que merece destaque é aquela que faz com que uma pessoa se julgue merecedora da ação de Deus. Seja para o que quer de bom ou para coisas que se considera que uma determinada pessoa merece. “Acredita-se, portanto, que o sucesso ou o insucesso das pessoas depende do seu mérito”.[3] Esta visualização ou entendimento, promove uma expectativa de que o ser humano é merecedor do amor de Deus. É como Ele tivesse a obrigação de derramar sua graça sobre nós, porque somos bons, para quem tem bom comportamento e, quem não for bom, não será merecedor. Portanto, é semelhante a competidores de uma disputa desportiva “quem se esforçou mais, preparou-se mais e conseguiu demonstrar mais habilidade do que os demais competidores”[4] será o merecedor do louro da vitória. Que neste caso será aquilo que se pede ou mesmo o reino eterno, o “grande prêmio”.

c)            O Deus da sorte

“Em nossa linguagem corrente dizemos, geralmente sem senso crítico, que os muito pobres, os necessitados, os miseráveis, os excluídos da sociedade são os ‘menos favorecidos’”.[5] É como se o “se dar bem na vida” estivesse atrelado somente à sorte, e, não dependesse de questões sociais, econômicas e políticas. Em certos meios eclesiásticos isso é entendido como um favor que Deus presta a este e não aquele. Deus tem os seus prediletos nesta forma de entender a graça e neste caso “a sorte quem dá é Deus”.[6] Assim O Altíssimo dá mais sorte para uns e menos para outros.

d)            O Deus da prosperidade

                Está é a moda da vez. Em tempos difíceis Deus se torna o senhor da prosperidade. “Segundo essa imagem, Deus dá ao ser humano só o que é bom na vida”.[7] Basta “crer e tomar posse da bênção” que a prosperidade está garantida. Quem não consegue a prosperidade é por que não crê. Todas as coisas consideradas ruins são atribuídas ao demônio. É como se não existissem problemas humanos. “Assim, se uma família enfrenta problemas, como dificuldades financeiras, desemprego, carências, doenças, alcoolismo, drogas, desentendimentos etc., é porque não está com Deus, não se teme nem sua Lei”.[8]
            Pode-se entender que quem é pobre, é porque deixa “portas abertas” para que o demônio entre. O Diabo é quem rouba a alegria, a felicidade e a saúde etc. Os que estão  bem, com dinheiro, saúde, alegria, etc., são aqueles que tomam posse da bênção. Nesse sentido, os problemas são vistos como punição de Deus.


A graça de Deus
O entendimento do significado do que é graça pode ser visto desde o Antigo Testamento.  O vocábulo hnn em hebraico, “designa nas relações humanas uma atitude de benevolência, na maioria das vezes por parte de um superior para com um subordinado, é a expressão teológica do amor insondável de Deus (Gn 6. 8)”.[9] Tal expressão, mostra a relação que Deus estabeleceu com Noé. Este texto vai ser mencionado em Mt 24. 37, onde  o evangelista afirma que na vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé.
                “A hèsèd divina funda certa relação com o homem”.[10] Esta palavra é usada 245 vezes no Antigo Testamento e, é traduzida por bondade e graça. Ela está ligada ao campo semântico de justiça.[11] Este vocábulo traduz bem o sentido de gratuidade no AT pois, a graça era a ação de deus em benefício de seu povo. “Sua graça toma o corpo na aliança com Israel”[12] formulando ao longo da história uma teologia. Dessa forma, a graça divina se mostra na vida e na história do povo. É Deus quem toma a decisão de acolher um povo que muitas vezes lhe foi infiel. No entanto, este dicionário afirma que “o ato de graça de Deus dirige-se em primeiro lugar ao povo; mas à medida que a crença em sua eleição se encontra abalada, a experiência da graça tende a individualidade”. [13]
                O Novo Testamento forma uma teologia própria, onde “o ato da graça de Deus encontra sua figura escatológica em Jesus Cristo, no qual o reino de Deus se aproximou (Mc 1. 15par.) e a vida  se desvelou (Jo 3. 16)”.[14]   No Novo Testamento, o desenvolvimento da graça trás a memória os atos de Cristo, que são constantemente re-atualizados  por meio dos “sacramentos, da palavra”[15] e do Espírito Santo, que desenvolve a fé e dá a quem nele crê nova vida.
                No Novo Testamento “emprega o termo charis 155 vezes, normalmente nas Epistolas de Paulo (100 vezes)”.[16]             Paulo em suas cartas desenvolve um conceito de graça bastante amplo, entretanto, bem definido. É a graça que o leva a se tornar atuante para com o evangelho (Cf 1Co 15. 10). Ou ainda, como em 2Co 12. 9 – é a graça que sustenta o ser humano em sua fraqueza – tornando-o forte.  Fale lembrar que este vocábulo ainda aparece em:

1 e 2 Co (10 e 18 vezes), Rm (24 vezes) e Ef (12 vezes). Nas Epistolas Gerais, acha-se mais freqüentemente em 1 Pe (10 vezes); ocorre em Hb (8 vezes). Atos dos Apóstolos emprega charis 17 vezes, Lucas, 8, e João, 4. Com exceção de um só texto em 1 Pedro, charisma é um conceito exclusivamente Paulino (16 vezes). Charizesthai ocorre somente em Paulo (16 vezes) e em Lucas (Lucas, 3 vezes; Atos, 4 vezes), como também charitoun (uma vez cada). [17]

                Qual destes deuses acima nós escolhemos estes descritos acima ou o Deus Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Devemos fazer uma reflexão séria sobre o que tratamos e como tratamos




[1] SOARES, Paulo Sérgio, Iniciativa de Deus e co-responsabilidade humana: teologia da graça, São Paulo, Paulinas, 2004, p. 20.
[2] Ibid., p. 20
[3] Ibid., p. 21.
[4] Ibid., p. 21.
[5] Ibid., p. 23.
[6] Ibid., p. 23.
[7] Ibid., p. 25.
[8] Ibid., p. 25.
[9] Dicionário crítico de teologia / publicado sob a direção de Jean-Yves Lacoste: (tradução Paulo Meneses...[et al.). – São Paulo, Paulinas/Loyola, 2004, p. 777.
[10] Ibid., p. 777.
[11] SIQUEIRA, Tércio Machado, O conceito de justiça no Antigo Testamento: a partir do livro de Salmos, Apostila.
[12] Dicionário critico de teologia, Op. Cit., p. 778.
[13] Ibid., p. 778.
[14] Ibid., p. 778.
[15] BOFF, Leonardo, A graça libertadora no mundo. Petrópolis, Vozes, 1990, p. 21.
[16] COENEN, Lothar e BROWN, Colin,  Dicionário Internacional de teologia do Novo Testamento, Tradução de Gordon Hown, São Paulo, Vida Nova, 2000, p. 910.
[17] Ibid., p. 510.          


Notas Bibliográficas

BOFF, Leonardo, A graça libertadora no mundo. Petrópolis, Vozes, 1990.
COENEN, Lothar e BROWN, Colin,  Dicionário Internacional de teologia do Novo Testamento, Tradução de Gordon Hown, São Paulo, Vida Nova, 2000.
Dicionário crítico de teologia / publicado sob a direção de Jean-Yves Lacoste: (tradução Paulo Meneses...[et al.). – São
Paulo, Paulinas/Loyola, 2004.
SIQUEIRA, Tércio Machado, O conceito de justiça no Antigo Testamento: a partir do livro de Salmos, Apostila. BOFF,
SOARES, Paulo Sérgio, Iniciativa de Deus e co-responsabilidade humana: teologia da graça, São Paulo, Paulinas, 2004.





segunda-feira, 11 de abril de 2011

A ética

Hoje apresento a última parte de meu texto sobre ética em Sartre. Este é o momento em que visualizamos o todo para entender sua relação com as discussões anteriores. Agora temos elementos suficientes para entender que a teologia procura relacionar a vida com contexto do Reino de Deus. Lugar em que todos somos iguais e importantes. A ética do reino é diferente daquela que a maioria das pessoas entendem ser boa para a vida. Boa leitura.

A ética
Ao afirmar que o ser humano faz-se e que ele não está pronto, Sartre dimensiona que cada um individualmente escolhe sua própria moral. Entretanto, há necessidade de deixar claro que para o filósofo, sempre que alguém escolhe a si, o faz em relação aos demais. Este é o pano de fundo, que define a sua formulação ética.
Erich Fromm, discorrendo a respeito da ética humanista, faz uma distinção  importante entre a ética autoritária e  a humanista. Ele afirma que a primeira  nega a capacidade do homem para saber o que é bom ou mau”.[ FROMM, Erich, p. 22]  O interesse em distinguir uma da outra se dá no sentido de que a ética autoritária segundo Fromm é formal, enquanto a ética humanista é material. Desta maneira a ética autoritária apenas responde à “pergunta do que é bom ou mau principalmente em função dos interesses da autoridade”. [Idem, p. 22]
Pode-se dizer que neste sentido ela é exploradora, apesar dos benefícios consideráveis. Em contrapartida, a ética humanistapara a qualbem’ é sinônimo do que é bom para o homem e ‘mal’ do que é mau para este” [Id. Ibid. p. 28], dá dimensionamento qualitativo à vida.  Fromm considera essa forma de ética como uma ciência aplicada a arte de vive. Descreve que “o homem moderno parece crer que ler e escrever são artes a serem aprendidas, que é preciso estudo considerável para tornar-se arquiteto, engenheiro ou operário especializado, mas que viver é algo tão simples que não requer nenhum esforço em particular para aprender como fazê-lo”. [Id. Ibid., p. 29]
Esta questão proposta por Fromm, ajuda entender o fundamento ético em Sartre, que afirma “nós nos apreendemos a nós mesmos perante o outro, e o outro é tão verdadeiro para nós quanto nós mesmos”. [SARTRE, p. 15] Sua posição refuta a subjetividade de Descartes e de Kant. Estabelece uma conceituação de que o homem se alcança pelo cogito e afirma todos os outros como condição de sua própria existência. A necessidade de considerar o outro é aprendizado que deve ser constante na vida existencial.

Considerações Finais
            Ao aprofundar o texto é possível a partir das conjecturas, entender o porquê da relevância do texto para o estudo da ética.
            Primeiro porque Sartre em sua época desvela um novo ser humano. Um ser que precisa ter esclarecimento e entendimento de sua importância na vida humana, tanto, individual como coletivamente. Segundo, porque ao propor este novo olhar para a vida ele desafia as pessoas a serem livres. Pode-se argumentar que o ser humano é livre. No entanto, para Sartre esta liberdade soa falsa.
            Como ser livre sem consciência do que é a liberdade? Resta então, para o ser humano, rever-se como ser. Nãooutra condição que possa ajudá-lo a viver em um mundo hostil, tenebroso que provoca dor e sofrimento. É necessário entender-se como ser em construção. Pois, quando o ser humano toma consciência de sua própria fragilidade e da importância da livre escolha por efeito da liberdade, ele pode escolher.
            Por fim, o texto mostra que o ser humano se constrói, numa perspectiva social. É impossível para o ser humano viver sem a presença de outros seres humanos. Isso implica que o homem não pode pensar somente em si próprio. Ele se constrói, porque outros interagem com ele.  A ética, sartreana, dimensiona uma ruptura do eu, para dar lugar ao coletivo. Pensar em si também significa pensar no outro.
            As conseqüências de não ver também o todo e de não pensar na coletividade, estava visível no mundo de sua época: o horror e a tragédia que a Guerra provocou.

Notas Bibliográficas
SARTRE, Jean-Paul,, Questão de método, 3ª ed., São Paulo, Nova Cultural, 1987.
SARTRE, Jean-Paul, O existencialismo é um humanismo. 3ª ed., São Paulo, Nova Cultural, 1987.
MOUTINHO, Luiz Damon Santos, Sartre: existencialismo e liberdade. São Paulo, Moderna, 1995.
FROMM, Erich, Análise do homem. São Paulo, Círculo do Livro, ?


quarta-feira, 6 de abril de 2011

A caminhada

     Qual a importância das questões que temos levantado? Para que tratar de ética, ecumenismo, igreja? São perguntas pertinentes.
     Não queremos tratar tudo de uma única vez, mas aos poucos ir lapidando as questões importantes sobre a igreja e tudo mais que possa ajudar entender seus desígnios e suas competências.
     Os dois últimos texto deverão ser completados ainda. Mas, já podem nos ajudar a pensar a necessidade da relação eclesiológica entre diversas instituições cristãos. O ecumenismo não é e nem pode ser, unilateral. Tampouco, personalista ou esclusivista. Não temos nós o direito de asseverar que a nossa visão, nossa resposta ao inigmas humanos são as verdadeiras e têm a última palavra. Teríamos que ser o próprio Deus.
     Há necessidade urgente de revermos alguns paradigmas, algumas certeza e convicções sem perdemos a fé que temos. Ao contrário, ao verificarmos e revermos nossos caminhos, certamente descobriremos a beleza de sermos humanos que diante de Deus se deixam descansar. Fatalmente seremos melhores na medida em que avançarmos nessa direção.
Um grande abraço,
Rev. Jorge Wagner

domingo, 3 de abril de 2011

Jean Paul Sartre: O existencialismo é um Humanismo – Segunda Parte.


            A trilha que estamos construindo por meio de textos e de discussõres é imprescindível para a caminhada cristã em nossos dias. Ao unirmos teologia e filosofia, estamos percorrendo caminhos por vezes tortuosos, porém, necessários para reavivar a obra redentora de Jesus Cristo. Vivemos tempos caóticos em que os simulacros tomam versões da verdade escondendo sua podridão.
            Ao discutirmos o pano de fundo que move a igreja em nossos dias, estamos retomando as rédeas há muito perdidas nesse emaranhado caótico em que nos perdemos por falta de verificarmos a validade da ação que a igreja crista deve despender para ser realmente sal e luz para o mundo.
Esta segunda parte do texto evoca a responsabilidade de cada um. Sartre cria que o ser humano existencialista só pode ser considerado como tal, se assume sua parte na responsabilidade de conduzir a vida. O que é, então, ser plenamente responsável?

2.         O homem é plenamente responsável
            Por ter consciência de que se projeta num futuro, ele se torna responsável. A aplicação do conteúdo é o que denota a questão de fundo para a responsabilidade. Afirma Sartre: “se realmente a existência precede a essência, o homem é responsável pelo que é”. [Sartre, O existencialismo é um humanismo, p. 6.] A questão de fundo é, o existencialismo deve colocar o ser humano diante dele mesmo, com todo o potencial e toda a falibilidade. Ele deve ser confrontado com a responsabilidade total de sua própria existência.
            Para Sartre o ser humano não é apenas responsável pela sua existência individual, mas é responsável por todos os seres humanos. Para mostrar esta questão o filósofo, diferencia as duas possibilidades de entender o subjetivismo, o qual foi bastante criticado no existencialismo sartreano. Para ele subjetivismo significa de um lado, “a escolha do sujeito individual por si próprio e, por outro lado, impossibilidade em que o homem se encontra de transpor os limites da subjetividade humana”.[ Id. Ibid., p. 6.]
            Tal responsabilidade se dá pela capacidade de escolha que o ser humano tem. Segundo Sartre não apenas o direito, mas o dever de escolher, por ser livre. Afirma ele, “a escolha é possível, em certo sentido, porém o que não é possível é não escolher”.[Id. Ibid., p17] Não é mero jogo de palavras, significa, que sempre podemos escolher, no entanto devemos estar cientes de que, se não escolhermos, assim mesmo fazemos uma escolha, conclui Sartre.


Referências Bibliográficas
SARTRE, Jean-Paul, O existencialismo é um humanismo. 3ª ed., São Paulo, Nova Cultural, 1987.
SARTRE, Jean-Paul,, Questão de método, 3ª ed., São Paulo, Nova Cultural, 1987.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Ecumenismo e Tolerância imperativos para o cristianismo

"Eu afirmo cheio de horror, mas com veracidade: somos nós, os cristãos, somos nós os perseguidores, os carrascos e os assassinos! E de quem? De nossos irmãos”. [Voltaire, Tratado sobre a tolerância, p. 60]

            A constatação de Voltaire, em sua época questiona a perseguição e a intolerância Católica Romana para com os reformados, jamais suspeitou que duzentos e tantos anos depois, a situação seja inversa. Não como perseguidores, carrascos ou assassinos, mas, como antagonistas que viram o rosto e não querem relacionamento com a irmã romana.
            A intolerância põe em risco o salutar relacionamento ecumênico entre as diferentes instituições cristãs, a boa vivência amorosa, está em grande risco por não ser tolerante com o diferente. Voltaire já advertia “Quanto mais a religião cristã é divina, tanto menos pertence ao homem dirigi-la: se foi Deus que a fez, Deus a sustentará sem nossa ajuda”. [idem, p. 63] O perigo ronda cada canto de nossa Igreja, a indiferença, a falta de boa vontade em relacionar-se não põe em risco apenas a convivência pacífica, mas, principalmente nosso testemunho cristão, pois, “na casa de meu Pai há muitas moradas” (Cf. Jo 14.3). Ainda lembramos que Jesus ensinou aos seus/as discípulos/as a tolerância: “... Mestre, vimos certo homem que, em teu nome, expelia demônios e lho proibimos (...) Mas Jesus lhe disse: não o proibais; pois quem não é contra vós outros é por vós.” (Cf. Lc 9. 49-50)
            Devemos perceber que a “intolerância apenas produz hipócritas ou rebeldes: que alternativa funesta”. [Voltaire, p. 63] Devemos cumprir em nossos dias a Palavra de Jesus ao Pai: “A fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste” (Cf. Jo 17. 21).

quarta-feira, 23 de março de 2011

Discutir teologia e filosofia: Jean Paul Sartre: O existencialismo é um Humanismo...

Discutir teologia e filosofia: Jean Paul Sartre: O existencialismo é um Humanismo...: "Por que esta obra é fundamental no estudo da ética?Jorge Wagner de Campos Freitas Vamos tratar sobre a visão de ser humano em Paul Sertre em..."

Sartre discute sua época, convicto de que havia falta de uma ética responsável. Propõe o existencialismo como uma das possibilidades de rever os conceitos de liberdade existentes. Sua época é marcada pela “angústia, pelo desamparo e pelo desespero”. [SARTRE, Jean-Paul, O existencialismo é um humanismo. p. 7]

Participe de nossas discussões. Opine, reparta suas preocupações a respeito da teologia e da filosofia.

Jean Paul Sartre: O existencialismo é um Humanismo

Por que esta obra é fundamental no estudo da ética?
Jorge Wagner de Campos Freitas

Vamos tratar sobre a visão de ser humano em Paul Sertre em sua obra O existencialismo é um humanismo e responder por que a leitura de tal obra é fundamental no estudo da Ética? Certamente não se pode responder a tal questionamento sem entender a época e o filósofo.
            A obra trata entre outras questões importantes, sobre a liberdade e a responsabilidade advinda da primeira. Não é possível existir liberdade sem responsabilidade. Tal pensamento denota a ética sartreana.
            Sartre discute sua época, convicto de que havia falta de uma ética responsável. Propõe o existencialismo como uma das possibilidades de rever os conceitos de liberdade existentes. Sua época é marcada pelaangústia, pelo desamparo e pelo desespero”. [SARTRE, Jean-Paul, O existencialismo é um humanismo. p. 7] Para discorrermos a respeito e respondermos a questão, propomos analisar as seguintes questões: a concepção existencialista de homem, o homem é plenamente responsável e a escolha de si mesmo.
            Para facilitar vamos desenvolver esta abordagem em algumas partes, sendo esta a primeira. Ela é fundamental para continuar a discussão sobre ética, já começada á algum tempo.

1.         A concepção existencialista de homem (Ser humano)
            O ponto de partida da concepção existencialista de homem, no texto de Sartre é que “o homem existencialista, encontra a si mesmo, surge no mundo e posteriormente se define”. [Idem, p. 6] A questão colocada pelo filósofo é que o ser humano depende de si mesmo e, dependendo de si mesmo ele precisa se construir. Ele nasce como projeto o qual precisa construir a si mesmo, isto é o homem é o que ele projeta para ser.
            O homem descrito por Sartre se produz socialmente, isto é, se constrói não somente enquanto ele próprio, mas, num paradoxo onde ao construir a si mesmo se constrói em coletividade. Ele define o ser humano em certa consonância com o marxismo, cita Marx: “a objetivação seria um desabrochamento, ela permitiria ao homem, que produz e reproduz incessantemente sua vida e que se transforma modificando a natureza, ‘contemplar-se a si mesmo num mundo que ele criou’”. [SARTRE, Jean-Paul. Questão de método, p. 117]    
            Neste sentido o ser humano constrói o seu próprio mundo. Isso é que mostra como o ser humano pode ser definido. Sartre ao fazer tal definição trata de qualificar o que é o homem. Diz, “o homem, tal como o existencialista o concebe, não é passível de uma definição porque, de início, não é nada: posteriormente será alguma coisa e será aquilo que ele fizer de si mesmo”. [O existencialismo é um humanismo. p. 6] Embora diga que não é passível uma definição, acaba definindo que o ser humano é construtor de si mesmo.
            Para Sartre o ser humano “é um projeto que se vive a si mesmo subjetivamente...; nada existe antes desse projeto;...”. [Idem. p 6] O homem diz, ele, “será apenas o que ele projetou ser”. [Idem. p 6] No entanto, faz distinção do que se pensar ser o querer ser, como uma decisão consciente.  A maioria das escolhas que fazemos, não são conscientes. Tais escolhas segundo ele, são espontâneas.
            Não é possível viver sem projetar-se a si mesmo. O projeto presume o conhecimento das coisas que estão à volta do ser humano. Tal conhecimento permite ao ser humano, tomar consciência de si e do mundo. Segundo Sartre o homem “é, antes de mais nada, aquilo que se projeta num futuro, e que tem consciência de estar se projetando no futuro”. [Idem. p 6]

Referências Bibliográficas
SARTRE, Jean-Paul, O existencialismo é um humanismo. 3ª ed., São Paulo, Nova Cultural, 1987.
SARTRE, Jean-Paul,, Questão de método, 3ª ed., São Paulo, Nova Cultural, 1987.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Ecumenismo hoje

              Uma das questões mais difíceis hoje na igreja cristã é a que trata do ecumenismo. A discussão tem gerado grandes controvérsias o que também tem provocado divisões que são contra-produtiva. 
             Estamos começando uma nova discussão sobre ser ou não ecumênico. Convido você a participar deste diálogo sobre o assunto.

INTRODUÇÃO
            Na busca de unidade, segundo José Miguez Bonino “Wesley nos assinala algumas direções. A unidade para ele é basicamente missionária”. [BONINO, p. 16.] A afirmação de Bonino levanta algumas questões importantes para a discussão do ecumenismo na Igreja Metodista.
            Vamos discutir a questão a partir do problema levantado pelo autor “nosso problema é o de uma igreja confessional numa época ecumênica”. [Id. Ibid., p. 17.] A questão levantada é pertinente, pois demanda não apenas uma nova interpretação e entendimento, mas uma nova prática do ecumenismo na atualidade.

Ecumenismo
            Gottfried Brakemeier em sua obra Preservando a unidade do Espírito no vínculo da paz: um curso de ecumenismo, afirma dois modos de se fazer ecumenismo: de consenso e o prático. O primeiro trata essencialmente do “consenso doutrinal” [BRAKEMEIER, p.77.] e o segundo modo, se refere principalmente à práxis “do serviço, da diaconia”. [Id. Ibid., p. 85.]

a)         O significado de ecumenismo
                Oikoumene – todo o mundo habitado. Segundo José Carlos de Souza, o vocábulo ecúmeno “descrevia a parte do mundo conhecido que integrava o complexo cultural helênico, em oposição ao mundo bárbaro [...]. O uso do termo não indicava apenas uma extensão geográfica, mas compreendia a ‘unidade de uma civilização ou sociedade produzida pela aceitação comum de determinadas lealdades e normas’”. [SOUZA, O que é ecumenismo: questionamento atual]
Carta pastoral do Colégio Episcopal sobre ecumenismo, Biblioteca Vida e Missão, Colégio Episcopal, São Paulo, Cedro, 1999, p. 9
            O Novo Testamento utiliza a palavra oikoumene de três maneiras diferentes. Os sentidos “geográfico, político e espiritual”. [Colégio Episcopal da Igreja Metodista, p. 9] O sentido geográfico se referia ao mundo inteiro (cf. Mateus 24. 14;) ou como toda a terra (cf. Lucas 2. 1). O segundo, quando se refere a todas as nações, sentido político (cf. Marcos 13. 10). O terceiro sentido é o espiritual e cultural (cf. Hebreus 1. 6; Romanos 10. 18; Apocalipse 12. 9).
            Para Brakemeier o termo ecumene (ecumênico, ecumenismo) “provém do grego ‘oikoumene’. Trata-se do particípio passivo feminino do verbo ‘oikein’ que significa habitar”. [BRAKEMEIER,  Op. Cit., p. 9]. Sua tradução literal é habitada, que segundo o autor se trata da terra. Desta forma em seu entendimento é de sentido geográfico, que se refere ao espaço de vivência humana.
            Então ecumenismo pode ser compreendido como as relações desenvolvidas entre pessoas que busca um sentido de unidade. O que também se pode entender como unidade na diversidade. Quando se trata de religião, deve-se entender como a unidade entre pessoas de diferentes credos ou religiões. No entanto, quando há referência à religião, não se esta falando apenas do cristianismo.

b)        Ecumenismo de consenso
            O ecumenismo de consenso segundo  Brakemeier é aquele que busca “superar divergências e conflitos em discurso e prática das Igrejas para conduzir à trilha comum que é a tradição apostólica”. [Id. Ibid. p. 77].  Neste sentido há necessidade de aprofundar o entendimento de ecumenismo, para que isso seja uma realidade no contexto eclesial as igrejas necessitam alinhar “o discurso, ensino, pregação e teologia”. [Id. Ibid., p. 77]. Questão bastante difícil para concretizar em termos práticos.
            O Conselho Mundial de Igreja tem tratado desta questão a partir do movimento Fé e Ordem. A dificuldade não se encontra nos “fatores étnicos, culturais, classistas ou estruturais que estão na raiz da Igreja” [Id. Ibid., p. 77] afirma Brakemeier. A dificuldade se encontra em questões teológicas e de fé. Segundo Brakemeier, o diálogo tem sido intenso e gerado alguns documentos, tais como: O Documento de Lima, com o título “Batismo, eucaristia, Ministério”, [Id. Ibid., p. 78] Lima, 1982. A Declaração Comum do Povo firmado pelas Igrejas Luteranas da Escandinávia e Igreja Anglicana. [Id. Ibid., p. 79]

c)         Ecumenismo prático
            O ecumenismo prático trata da ação. Brakemeier chama a atenção “ainda ecoa na memória a já mencionada divisa dizendo que, enquanto a doutrina divide, a ação é que une”.[Id. Ibid., p. 85] Neste modelo não há busca pela reflexão ou unidade teológica, mas a ação possível entre grupos ou igrejas diferentes em torno de algo concreto. Segundo o autor a “priorização da práxis contou com fortes simpatias”. [Id. Ibid., p. 85] Ele se refere ao ecumenismo latino-americano que se envolveu com questões sociais, políticas e inclusive econômicas. Isso se aplica ao contexto brasileiro. Igrejas brasileiras se uniram no período do regime militar para fazer frente a ditadura e posteriormente já no período da retomada da democracia para tratar das questões sociais consideradas urgentes.
            Segundo Brakemeier “a história, porém, provou ser este ecumenismo de modo algum mais fácil do que o dogmático”. [Id. Ibid., p. 88] No entanto, não se pode rejeitá-lo. Para o autor, estes modelos, são necessários. Em vários momentos o ecumenismo prático este em grande evidência na Igreja Metodista, entre estes “a parceria com a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) no que diz respeito à divulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos”.
            A Pastoral sobre o Ecumenismo além de transmitir ao povo metodista sua posição a respeito do ecumenismo dimensiona as bases e orientações sobre questões ecumênicas específicas. Como por exemplo, as duas participações na Campanha da Fraternidade Ecumênica. No entanto, há que ressaltar que o ecumenismo em termos de Igreja Metodista nunca foi e não é uma unanimidade.

NOTAS CONCLUSIVAS
             A Igreja Metodista tem uma histórica de atividade ecumênica.  O que não tem evitado embates acirrados a respeito das relações ecumênicas, principalmente com a Igreja Católica. Mesmo reafirmando seu espírito católico Carta pastoral do Colégio episcopal sobre ecumenismo, [ Op. Cit. p. 37] ao longo de sua história é evidente que há sérias limitações em sua ação na atualidade. A Igreja Metodista neste momento se encontra dividida a esse respeito.
            Certos setores da Igreja chagam à intolerância a respeito do ser ecumênico. Para estes grupos, a relação com determinadas denominações de cunho pentecostal é possível, mas não se tratando de Igreja Católica. As vésperas de um concílio Geral o tema vem à toma com força e promete discussões sérias a esse respeito. Nas palavras de Ribeiro “que o Deus da Vida nos conceda a coragem e a sabedoria de viver a identidade metodista em meio à diversidade”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BONINO, José Miguez, Conservar o metodismo?Em busca de um genuíno ecumenismo, In: Mosaico: apoio pastoral, ano 13, nº 33, janeiro/junho, 2005.

BRAKEMEIER, Gottfried, Preservando a unidade do Espírito no vínculo da paz: um curso de ecumenismo, São Paulo, ASTE, 2004.

Carta pastoral do Colégio Episcopal sobre ecumenismo, Biblioteca Vida e Missão, Colégio Episcopal, São Paulo, Cedro, 1999.

SOUZA, José Carlos de, O que é ecumenismo: questionamento atual, texto preparado pelo professor e disponível no Curso  de Integralização de Créditos, www.umesp.edu.br/teologia.  Acessado em 06/06/2006.

Carta pastoral do Colégio Episcopal sobre ecumenismo, Biblioteca Vida e Missão, Colégio Episcopal, São Paulo, Cedro, 1999

Jorge Wagner de Campos Freitas.