segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A verdade que liberta e dá vida


... e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” Jo 8. 32


Introdução

Em face às muitas mentiras que o ser humano vive nos dias de hoje, torna-se necessário estabelecer os conceitos de conhecer e de verdade. Conhecer e estabelecer a verdade são questões urgentes, pois, algumas verdades são simulacros (mentirosas) e outras vezes se confundem com as próprias mentiras. Conhecer o que é verdade no contexto bíblico descrito em João é importante para estabelecer a mesma. A preocupação teológica com o assunto é pertinente, pois, conhecer e estabelecê-la não são questões puramente semânticas, mas, de evocar o Reino de Deus, por meio da ação da verdade.

Escopo

O texto de João mostra a necessidade de diferençar a verdade aparente daquela que se impõe como tal. Por exemplo: os fariseus diziam fazer a vontade de Deus Pai. Faziam estes, verdadeiramente à vontade de Deus? Na perspectiva do reino, não havia verdade estabelecida, pois, esta variava de acordo com a ocasião e o humor dos senhores da lei. Para o pensamento judeu, verdade evoca essencialmente: certeza, solidez, fidelidade e constância.  Ex: Quando falo que amo meu pai, minha mãe, esposa, filhos ou amigos etc. Para definir que isso é verdadeiro, tenho que mostrar a veracidade de maneira concreta, isto é, com atitudes. Mas antes de trataremos a respeito da verdade, vejamos o sentido de conhecer.

Conhecimento (epistemologia) ou a teoria do conhecimento trata entre outras coisas, “da experiência e da razão; ou ainda, da relação entre o conhecimento e a certeza, e entre o conhecimento e a impossibilidade do erro...”. [Blackburn, Simon. Dicionário Oxford de filosofia. Zahar Editores, 1997, p. 118]. Para determinar o conhecimento da verdade, deve-se saber com qual conteúdo estamos lidando, de que verdade nós estamos falando e onde queremos chegar com aquilo que pensamos ser conhecimento. Por outro lado, conhecer também evoca equilíbrio reflexivo. Não é possível conhecer alguma coisa sem ter contato e sem refletir sobre o objeto do conhecimento a que nos referimos.

Se for conhecimento que se refere às considerações acima, se refere à certeza, isto é, um conhecimento que é digno de nota e traduz a expressão do saber daquilo que está se falando, sem falsa certeza ou sem incerteza determina de quem pronuncia o conhecer de todos os aspectos daquilo que é pronunciado. Significa que “O problema de definir conhecimento em termos de uma conjunção entre a crença verdadeira e uma relação especialmente favorecida entre o agente e os fatos” [Blackburn, Simon, p. 119] é o que pode fazer a diferença em saber-se realmente se é ou não certeza.

A verdade pode ser considerada, como tal apenas se referindo como coerência de uma teoria, como correspondência de uma teoria ou como descrição de uma teoria. Entretanto, ela pode ser uma verdade necessária, isto é, “aquela que não poderia ser outra coisa” [Blackburn, Simon, p. 403]. A verdade considerada como  necessária, é portanto considerada sólida, certa e é necessário ela seja fiel e constante. Tomando o mesmo exemplo descrito a pouco, se digo que eu amo não posso trair, tenho que ser fiel. Significa sempre.

O conceito grego para verdade exprime o fato de alguma coisa a ser descoberta, e quando colocada às claras, desvela, expressa e liberta das aparências que a velam. Se quisermos a verdade, jamais ela poderá ser um simulacro da verdade. Ela deverá ser sempre a expressão daquilo que verdadeiramente é. Jamais, poderá ser parecido com o que é. No texto de João 8. 32, a palavra a0lh/qeian (aletéian) [Novo Testamente interlinear grego-português. Barueri, Sociedade Bíblica, 2004] se encaixa no disposto acima. É uma verdade que está acima de qualquer suspeita e que representa aquilo que lhe compete, sem meio termo. A discussão sobre quem profere a verdade é ponto central da própria verdade em si. Pois, no texto a verdade é o próprio comunicante e não outro.

No texto de João percebemos que há conhecimento do significado de verdade, com todos os argumentos acima expostos sobre verdade.  Jesus é judeu: conhece o sentido de verdade judaico e grego. Por isso, ao proferir sobre conhecer a verdade, ele sabe do que está falando, é categórica sua afirmação, não deixa espaço para dúvida. O evangelista já definiu desde o começo que o Cristo da redenção humana é o verbo encarnado. Seu conhecimento de Deus é interior e ulterior a tudo o que se poderia pensar ou dizer a respeito, ele sabe quem é, por que conhece e ele próprio disse que ele e o Pai eram um. Portanto, o texto para o evangelista é categórico e persuasivo, Ele, Jesus é a verdade.

As coisas que são consideradas não verdadeiras escravizam e determinam a morte. O ser humano usa máscaras e simulacros que servem para identificar cada um, conforme a ocasião. Isso muitas vezes determina peso e medida diferentes. Em todos os lugares é recorrente mascarar a realidade para servir como objeto de veracidade, embora, efetivamente não seja. Todavia, segundo o texto de João quando a verdade se estabelece por meio daquele que a pronunciou e a determinou, gera liberdade e salvação. Não se trata de uma salvação qualquer, mas, a verdadeira salvação proposta pelo Senhor Salvador.

Quantas vezes, pessoas dizem que estão certas de que fazem a vontade de Deus, mas, conforme as ocasiões facilmente mudam de idéia. Se de fato entenderem do que o mestre fala é impossível não perceber a diferença entre a verdade e a aparência da mesma. Deve-se aderir à interpretação que Jesus dá a questão da verdade e que exprime a palavra e a verdade de Deus – conhecereis a verdade – isto é, a Palavra de Deus: e ela vos libertará.

A verdade neste caso é a realidade de Deus na medida em que Ele é a plenitude da vida verdadeira do poder e da graça vivificante e pode associar o ser humano a ela, pois Ele é o autor da vida, E como autor da criação, quer dar vida e liberdade humana. Conhecer a verdade liberta, por que isso é conhecer a vontade e o amor de Deus, que é revelado em Jesus Cristo para a salvação da vida, livrando-o da escravidão do pecado.


Notas conclusivas

Esta verdade se manifesta e se comunica somente em Jesus. Segue daí que a fé nele também é conhecimento e acolhimento de verdade. A liberdade, o amor, a salvação, a dignidade, portanto, vêm através do conhecimento de todas as coisas que emanam de Deus, principalmente o conhecimento a cerca de Cristo, Senhor e Salvador de todos nós.

Jorge Wagner de Campos Freitas
  Mestre em Ciências da Religião

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