quarta-feira, 16 de março de 2011

Ecumenismo hoje

              Uma das questões mais difíceis hoje na igreja cristã é a que trata do ecumenismo. A discussão tem gerado grandes controvérsias o que também tem provocado divisões que são contra-produtiva. 
             Estamos começando uma nova discussão sobre ser ou não ecumênico. Convido você a participar deste diálogo sobre o assunto.

INTRODUÇÃO
            Na busca de unidade, segundo José Miguez Bonino “Wesley nos assinala algumas direções. A unidade para ele é basicamente missionária”. [BONINO, p. 16.] A afirmação de Bonino levanta algumas questões importantes para a discussão do ecumenismo na Igreja Metodista.
            Vamos discutir a questão a partir do problema levantado pelo autor “nosso problema é o de uma igreja confessional numa época ecumênica”. [Id. Ibid., p. 17.] A questão levantada é pertinente, pois demanda não apenas uma nova interpretação e entendimento, mas uma nova prática do ecumenismo na atualidade.

Ecumenismo
            Gottfried Brakemeier em sua obra Preservando a unidade do Espírito no vínculo da paz: um curso de ecumenismo, afirma dois modos de se fazer ecumenismo: de consenso e o prático. O primeiro trata essencialmente do “consenso doutrinal” [BRAKEMEIER, p.77.] e o segundo modo, se refere principalmente à práxis “do serviço, da diaconia”. [Id. Ibid., p. 85.]

a)         O significado de ecumenismo
                Oikoumene – todo o mundo habitado. Segundo José Carlos de Souza, o vocábulo ecúmeno “descrevia a parte do mundo conhecido que integrava o complexo cultural helênico, em oposição ao mundo bárbaro [...]. O uso do termo não indicava apenas uma extensão geográfica, mas compreendia a ‘unidade de uma civilização ou sociedade produzida pela aceitação comum de determinadas lealdades e normas’”. [SOUZA, O que é ecumenismo: questionamento atual]
Carta pastoral do Colégio Episcopal sobre ecumenismo, Biblioteca Vida e Missão, Colégio Episcopal, São Paulo, Cedro, 1999, p. 9
            O Novo Testamento utiliza a palavra oikoumene de três maneiras diferentes. Os sentidos “geográfico, político e espiritual”. [Colégio Episcopal da Igreja Metodista, p. 9] O sentido geográfico se referia ao mundo inteiro (cf. Mateus 24. 14;) ou como toda a terra (cf. Lucas 2. 1). O segundo, quando se refere a todas as nações, sentido político (cf. Marcos 13. 10). O terceiro sentido é o espiritual e cultural (cf. Hebreus 1. 6; Romanos 10. 18; Apocalipse 12. 9).
            Para Brakemeier o termo ecumene (ecumênico, ecumenismo) “provém do grego ‘oikoumene’. Trata-se do particípio passivo feminino do verbo ‘oikein’ que significa habitar”. [BRAKEMEIER,  Op. Cit., p. 9]. Sua tradução literal é habitada, que segundo o autor se trata da terra. Desta forma em seu entendimento é de sentido geográfico, que se refere ao espaço de vivência humana.
            Então ecumenismo pode ser compreendido como as relações desenvolvidas entre pessoas que busca um sentido de unidade. O que também se pode entender como unidade na diversidade. Quando se trata de religião, deve-se entender como a unidade entre pessoas de diferentes credos ou religiões. No entanto, quando há referência à religião, não se esta falando apenas do cristianismo.

b)        Ecumenismo de consenso
            O ecumenismo de consenso segundo  Brakemeier é aquele que busca “superar divergências e conflitos em discurso e prática das Igrejas para conduzir à trilha comum que é a tradição apostólica”. [Id. Ibid. p. 77].  Neste sentido há necessidade de aprofundar o entendimento de ecumenismo, para que isso seja uma realidade no contexto eclesial as igrejas necessitam alinhar “o discurso, ensino, pregação e teologia”. [Id. Ibid., p. 77]. Questão bastante difícil para concretizar em termos práticos.
            O Conselho Mundial de Igreja tem tratado desta questão a partir do movimento Fé e Ordem. A dificuldade não se encontra nos “fatores étnicos, culturais, classistas ou estruturais que estão na raiz da Igreja” [Id. Ibid., p. 77] afirma Brakemeier. A dificuldade se encontra em questões teológicas e de fé. Segundo Brakemeier, o diálogo tem sido intenso e gerado alguns documentos, tais como: O Documento de Lima, com o título “Batismo, eucaristia, Ministério”, [Id. Ibid., p. 78] Lima, 1982. A Declaração Comum do Povo firmado pelas Igrejas Luteranas da Escandinávia e Igreja Anglicana. [Id. Ibid., p. 79]

c)         Ecumenismo prático
            O ecumenismo prático trata da ação. Brakemeier chama a atenção “ainda ecoa na memória a já mencionada divisa dizendo que, enquanto a doutrina divide, a ação é que une”.[Id. Ibid., p. 85] Neste modelo não há busca pela reflexão ou unidade teológica, mas a ação possível entre grupos ou igrejas diferentes em torno de algo concreto. Segundo o autor a “priorização da práxis contou com fortes simpatias”. [Id. Ibid., p. 85] Ele se refere ao ecumenismo latino-americano que se envolveu com questões sociais, políticas e inclusive econômicas. Isso se aplica ao contexto brasileiro. Igrejas brasileiras se uniram no período do regime militar para fazer frente a ditadura e posteriormente já no período da retomada da democracia para tratar das questões sociais consideradas urgentes.
            Segundo Brakemeier “a história, porém, provou ser este ecumenismo de modo algum mais fácil do que o dogmático”. [Id. Ibid., p. 88] No entanto, não se pode rejeitá-lo. Para o autor, estes modelos, são necessários. Em vários momentos o ecumenismo prático este em grande evidência na Igreja Metodista, entre estes “a parceria com a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) no que diz respeito à divulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos”.
            A Pastoral sobre o Ecumenismo além de transmitir ao povo metodista sua posição a respeito do ecumenismo dimensiona as bases e orientações sobre questões ecumênicas específicas. Como por exemplo, as duas participações na Campanha da Fraternidade Ecumênica. No entanto, há que ressaltar que o ecumenismo em termos de Igreja Metodista nunca foi e não é uma unanimidade.

NOTAS CONCLUSIVAS
             A Igreja Metodista tem uma histórica de atividade ecumênica.  O que não tem evitado embates acirrados a respeito das relações ecumênicas, principalmente com a Igreja Católica. Mesmo reafirmando seu espírito católico Carta pastoral do Colégio episcopal sobre ecumenismo, [ Op. Cit. p. 37] ao longo de sua história é evidente que há sérias limitações em sua ação na atualidade. A Igreja Metodista neste momento se encontra dividida a esse respeito.
            Certos setores da Igreja chagam à intolerância a respeito do ser ecumênico. Para estes grupos, a relação com determinadas denominações de cunho pentecostal é possível, mas não se tratando de Igreja Católica. As vésperas de um concílio Geral o tema vem à toma com força e promete discussões sérias a esse respeito. Nas palavras de Ribeiro “que o Deus da Vida nos conceda a coragem e a sabedoria de viver a identidade metodista em meio à diversidade”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BONINO, José Miguez, Conservar o metodismo?Em busca de um genuíno ecumenismo, In: Mosaico: apoio pastoral, ano 13, nº 33, janeiro/junho, 2005.

BRAKEMEIER, Gottfried, Preservando a unidade do Espírito no vínculo da paz: um curso de ecumenismo, São Paulo, ASTE, 2004.

Carta pastoral do Colégio Episcopal sobre ecumenismo, Biblioteca Vida e Missão, Colégio Episcopal, São Paulo, Cedro, 1999.

SOUZA, José Carlos de, O que é ecumenismo: questionamento atual, texto preparado pelo professor e disponível no Curso  de Integralização de Créditos, www.umesp.edu.br/teologia.  Acessado em 06/06/2006.

Carta pastoral do Colégio Episcopal sobre ecumenismo, Biblioteca Vida e Missão, Colégio Episcopal, São Paulo, Cedro, 1999

Jorge Wagner de Campos Freitas.


Um comentário:

  1. Nobre colega,
    muitíssimo obrigado por compartilhar suas excelentes reflexões conosco.
    Abraço fraterno,
    Rev. Luiz Carlos Ramos

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